Esse é o meu primeiro cd em que interpreto canções de Sueli Costa e Cacaso. Escolhi dez canções, entre as mais conhecidas estão Face a Face, Amor Amor e Dentro de mim mora um anjo. Eu e o pianista e arranjador Márcio Hallack, optamos pela elaboração de arranjos minimalistas que valorizassem a poesia de Cacaso e as belas nuances melódicas de Sueli. Vale destacar Amor Amor, que deixamos registrado o que fluiu no calor da hora, sem praticamente nenhuma mixagem. A gravação desse disco me trouxe muitas alegrias.
Roberto Moura
Daniela Aragão é de Juiz de Fora, mas quiseram os caminhos do coração e da poesia fosse parar em Cataguases. Ali, debruçou-se em Cacaso, extraindo domergulho uma dissertação de mestrado e um CD, em que relê as parcerias do poeta com Sueli Costa. Tive o prazer de
escrever a apresentação do disco, “Face A – Suely costa/Face A – Cacaso”, encontrável apenas nas melhores lojas do ramo. De modo que transcrevo também:
“Pessoas invejáveis são as que vão da intenção ao gesto, da teoria à prática, do que é apenas utopia ao que é matériaviva". E este CD focaliza, não uma, mas duas pessoas desse naipe – uma, Daniela Aragão, cantora e mestre emLiteratura Brasileira pela UFRJ, onde defendeu dissertação sobre a obra poética da outra, o Cacaso, esse apressado quenos deixou tão cedo e podia nos ter deixado tanto além do muito que deixou.
Mestrados e doutorados stricto sensu costumam deplorar essa falta de estranhamento, de distanciamento crítico, para usar a terminologia brechtiana, entre o cientista e o seu objeto de estudo – às favas com eles. Não há nada mais fértil,mais prazeroso, que discorrer sobre aquilo que se conhece e de que se gosta. E Daniela, como se percebe faixa a faixa deste CD, ou já era apaixonada pela obra de Cacaso e Sueli Costa antes de mergulhar no seu projeto acadêmico ou
apaixonou-se no trajeto.
O fato é que não se satisfez em dissertar sobre ela. Necessitou, como coisa orgânica, visceral, vivenciá-la em estúdio,como se fosse ela as baianas Simone e Maria Bethânia, as cariocas Nana Caymmi e Olívia Hime, as paulistas Miúcha e Cristina Buarque. O resultado, mais que agradável, é surpreendente – basta que o ouvinte se deixe conduzir por tão sutis comandos. (...)
Assinar esse texto me traz uma alegria particular: Cacaso foi, além de poeta, um intelectual da Comunicação. Conheci-o assim, como professor da ECO/UFRJ, naquelas salas envelhecidas do prédio da Praia Vermelha, em que tive o prazer de ser seu aluno e me tornar seu amigo. Naquela época, era comum que, naqueles jardins internos, antes e depois das aulas, alguns professores e alunos continuassem uma relação e um aprendizado que não se circunscrevia ao determinado nas ementas. E Cacaso era dos mais generosos. Sempre podia abrir mão de seu tempo para ouvir e orientar os que dele se aproximavam – e eu, já crítico do Pasquim, experimentei ali a doce sensação de aprender duplamente com professores como Cacaso (Abel Silva também), capazes de acumular o fazer poético com o saber teórico.
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