quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Maria Rita, com certeza: Senhora do destino?


Com certeza muita gente conhece Maria Rita, cuja voz todas as noites abre e encerra a novela “Senhora do destino”, cantando os belos versos da canção “Encontros e despedidas”, parceria de Milton Nascimento com Fernando Brant. Uma canção densa, mas banalizada por sua repetição diária e exaustiva. Vamos aguardar o fim da novela, para que possamos ouvir a música num outro momento, totalmente descompromissado, distante de personagens, vinhetas e propagandas.

Com certeza pouca gente conhece o paulistano Chico Pinheiro, ou apenas ouviu falar no compositor, arranjador e violonista. Seu disco de estréia, “Meia-noite meio-dia”, lançado em abril de 2003, é um trabalho de grande qualidade, com a participação de ilustres compositores, cantores e arranjadores: Gilson Peranzetta, Paulo César Pinheiro, Lenine, Aldir Blanc, Ed Motta e a estreante Maria Rita.

Com certeza quase ninguém sabe, mas Maria Rita Mariano, que assumia o sobrenome paterno para possivelmente evitar qualquer analogia com a mãe, que era Carvalho Costa, começou sua carreira ao lado do jovem Chico Pinheiro. Juntos realizaram shows em São Paulo, Rio e Bahia, sempre com enorme sucesso de público e de crítica. No CD “Meia- noite meio-dia” Maria Rita Mariano interpreta “Essa canção” de Chico Pinheiro/ Guile Wisnik e Paulinho Neves, “Popó” de Chico Pinheiro e Aldir Blanc e “De frente” de Chico Pinheiro com Guile Wisnik.

Com certeza quem ouve Maria Rita Mariano acaba sentindo necessidade de compará-la com a atual Maria Rita, lançada pela Warner. É meio constrangedor, pois se Maria Rita já paga um preço por ser constantemente associada à imagem da mãe-mito Elis Regina, pior ainda é confundi-la com ela mesma: a “do Chico Pinheiro” com a “da Warner”. O que se notava naquele disco de “pré-estréia” era uma cantora com muito mais personalidade, que explorava as potencialidades vocais com ousadia e de maneira singular.

Com certeza o repertório do disco de Chico Pinheiro favoreceu o desabrochar de uma cantora com características próprias, os arranjos minimalistas ressaltam a beleza do timbre e a emissão de notas agudas cristalinas, dado praticamente ausente no disco da Warner. Maria Rita Mariano canta em tons adequados à sua voz, na canção “De frente” vai evoluindo em crescente dramaticidade até explodir em emoção.

Com certeza foi difícil para Maria Rita Mariano, assim como é difícil para Maria Rita, fugir de todos os compositores gravados por Elis Regina, praticamente responsável pelo lançamento de Gilberto Gil, Belchior, Milton Nascimento, Fagner, Ivan Lins, João Bosco e Aldir Blanc. Em “Popó”, a letra de Aldir em harmonia com a sofisticada música de Chico Pinheiro, marcada por um ritmo que privilegia uma levada cheia de quebras, abre espaço para que Maria Rita Mariano se solte nas performances vocais e em toda a ironia dos “comics”: “ Popó/ nocaute que eu levei/ a contagem tava em oito, eu levantei/ que nem Cassius Clay, falei!/ Veja só Mohamed Ali/ eu também me arrebentei/ ai, Deus, me acovardei.../ Meu Xodó, ai, tem dó/ chega de qüiproquó/ tô no cocoricó.../meu ciúme tá no filó!”.

Com certeza Maria Rita é muito talentosa e tem muito a percorrer, após os marcantes acontecimentos de uma carreira apenas iniciada: primeiro disco, primeiro filho, perda do amigo e produtor Tom Capone, fim do casamento. Talvez o momento atual seja destinado à reflexão, maturação de novas idéias e projetos. Como disse numa entrevista: “Eu não sei cantar uma música que pra mim não é verdade, então eu acho que isso acaba passando (para as pessoas), é até maneira de vida, viver honestamente”. Com certeza.

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