quinta-feira, 31 de janeiro de 2013


O compositor me disse

“Nem o gato/ nem o rato/ nem Patativa do norte/ só o ato/ só a vida/ é mais ativa que a morte”. Esses versos de Capinam andam me tomando todo o tempo, sopram nos meus ouvidos com a recordação da voz suave de Nara em contraste com a levada pulsante e cheia de swing da música de Edu Lobo. Às vezes as músicas me agarram, ou eu que delas me aproprio tentando por meio de versos alheios me traduzir? A paisagem nublada de Vila Rica em pleno verão chuvoso é de um encantamento meio gris, como sopram os versos de Geraldo Carneiro musicados por Francis Hime: “A esfera mundo perde a atmosfera noir/E ganha um encantamento meio gris/E eu sinto a estranha sensação/De que serei feliz”. Ontem conclui a pintura em tom de vinho de uma das paredes de minha sala, talvez para contrastar dionisiacamente com minha alma que estranhamente se sufoca com a vista vasta de uma das janelas, que me aponta uma profusão de verdes que me trazem ao longe um pedacinho do Pico do Itacolomi.

“Que surpresa/beleza/luz acesa/certeza/que saudade/verdade/já chegou/então vem cá”, os versos de Caetano que sintetizam um lirismo conciso com a música de Donato, são apenas uma tentativa de fixação no instante. Ando vagando demais em pensamento e preciso fazer as pazes com meu pinho tão sozinho ao lado da janela que me dá a vista para a vastidão verde. Dia desses ao telefone com Cristovão Bastos, meu mestre absoluto do som me dizia: “Toque menininha, que a vibração da música vai te tocando e você se sintoniza com outros sons e outros sons, que vão muito além das montanhas de Vila Rica”. Como fui educada desde menina a fazer as lições de casa, obedeci, mas com muita dificuldade a receita meio mágica me confidenciada por Cristovão.

No primeiro dia apenas uma brincadeira com acordes, tentando resgatar harmonias meio perdidas na memória. No segundo uma vontade de tocar algo que me trouxesse a tal expressão do inexpressivo, será que me faço entender? Gilberto Gil me aponta sua receita de compositor “O compositor me disse que eu cantasse distraidamente essa canção/E que eu cantasse como se o vento soprasse pela boca/Vindo do pulmão/ E que eu ficasse ao lado pra escutar o vento jogando as palavras pelo ar/ O compositor me disse que eu cantasse ligada no vento/Sem ligar/Pras coisas que ele quis dizer/Que eu não pensasse em mim nem em você/Que eu cantasse distraidamente como bate o coração”. Dizem que Gil a compôs especialmente para Elis Regina, uma espécie de recado-receita que sugeria talvez um mais leve cantar ao furacão Elis, que a entendeu como um exercício de contenção. Há muitos embates entre o cantor e o compositor, ai daqueles cantores que como eu passam anos e anos tentando um encontro pleno com a obra de um criador. Cacaso e Sueli Costa me custaram muitas audições, uma dissertação de mestrado, alguns textos esparsos e finalmente a coragem de cantá-los. Para que eu chegasse a cantar ligada no vento sem ligar, ascendi antes mil turbinas e confesso que entrei no estúdio com medo de titubear em “Amor amor”: “Quando o amor tem mais perigo é quando ele é sincero”. Quantas vezes paralisada me fixava sobre a visão dos dedos do pianista Márcio Hallack, literalmente com medo da imensidão da música. “A voz de alguém que canta/a voz de um certo alguém/ que canta como que pra ninguém”. Coloquei a voz em “Labaredas” de Sueli e Cacaso num sábado de fim de verão radiante de sol, e tentava loucamente associar sua quentura a chama da fogueira sugerida pela canção. Ah os mistérios da música... Recordo-me que logo após, abri rapidamente a porta do “estúdio aquário” e pedi ao Sérgio Lima Netto que me deixasse ouvir o resultado. Deitada sobre o chão de cimento logo na entrada do estúdio, fechei os olhos e fui tateando minha música no vento, ligando muito, é claro. Uma atitude sádica? “Louca me chamam/se sou louca/louca de amor serei”.

E vou pegando meu pinho com a tentativa de introduzir a doçura dos versos de Cartola “Ah essas cordas de aço/esse minúsculo braço/do violão que os meus dedos acariciam”. Toco sem parar um dos versos de “Lágrimas negras”, de Jorge Mautner e Nelson Jacobina: “Belezas são coisas acesas por dentro/Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento/Lágrimas negras, caem, saem, doem”. Uma licença poética ao meu poeta solidário em acuada mineiridade “Eu não devia te dizer/mas essa lua/mas esse conhaque/botam a gente comovido como o diabo”. Ando aguda demais.




sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Show de lançamento do"Olhares cruzados" do compositor Márcio Itaboray

Entre os meus guardados encontrei esse registro do show realizado em 2008 em comemoração ao lançamento do cd "Olhares cruzados", do compositor Márcio Itaboray. Com a participação de artistas como Roger Rezende, Sueli Costa, Mamão, Lúdica Música, Milton Nascimento entre outros o show foi uma celebração de alegria que trouxe numa teatro lotado um pouco das pessoas que fazem a música em Juiz de Fora. Interpretei a canção "Tempo passado", acompanhada pelo piano de Márcio Hallack, grande momento!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013


Entrevista com o compositor e cantor Kadu Mauad

Eu percebi que a oportunidade era única, o Hermínio sabia que eu estava sendo oportunista, a gente não pode ser hipócrita . Eu metralhava ele de pergunta!

O Lenine foi um cara que quando saiu o “Olho de Peixe” impactou , acho que foi bom para todo mundo. Eu coloco o “Olho de Peixe” na mesma proporção que foi o João Gilberto com Chega de Saudade para o Caetano, o Edu, o Chico.



Daniela Aragão: Como começou a música em sua vida?

Kadu Mauad: A música foram os meus pais que trouxeram, principalmente o meu pai que
cultiva a audição de música desde 14 anos de idade. Ele tinha uma vitrolinha que abria, tirava duas caixinhas, colocava um disquinho e ficava ouvindo na janela da casa dele com os colegas. Ele cresceu, casou e fez em sua casa um quarto de som e a gente tem até hoje um quarto de som cheio de discos. Eram os lps que eu não podia botar a mão, pois eu quebrava a agulha, a gente furava a caixa, criança né? Teve uma época em que o meu pai jogava muito football e ouvia músicas, ele sempre ouviu música, sempre comprou disco, sempre admirou música. A gente ouvia tudo, Beatles, RPM, me lembro quando estourou. Blitz, Paralamas.


Daniela Aragão: Você está com quantos anos?

Kadu Mauad: 32, sou de 21 de agosto de 1980.

Daniela Aragão: Você disse que foi o seu pai que trouxe a música para você, mas você traz na memória alguma música ouvida por ele? Pois você parece estar buscando uma memória própria, o que assimilou por conta própria, o rock por exemplo que estava tocando no momento da sua infância.

Kadu Mauad: Beatles foi um negócio muito forte, tem o CraftyWork dos alemães, que o meu irmão trouxe. São essas referências, irmão, irmã. Minha mãe trouxe Alceu Valença, João Bosco. O primeiro cara que eu vi tocando um instrumento foi o Lelé, isso me traz uma memória muito engraçada (risos). O Lelé era um sujeito gordão, sempre estava com uma camisa azul de botão aberta, tinha uma barriga enorme, aquelas barrigas de botar o prato em cima, botava violão também em cima da barriga. E o Lelé tinha uma coisa do Tim Maia, ele era branco mas tinha um negócio do Tim Maia, ele fazia um “uê uê uê” que o Tim Maia fazia “uau uau uau”(risos) e depois eu fui assimilando. Eu descia, a casa em que fui criado em São João Nepomuceno fica dentro de um quarteirão, ela não fica na beira da rua, para chegar na casa você tem que subir um beco e tal. Em cima então fica a casa do Lelé, ele já faleceu, quem mora hoje é o irmão dele, o Nequinha. Eu descia para ver o Lelé tocar violão e falar coisas, não me lembro muito o que falava pra mim, lembro que ele tocava violão, não lembro as músicas. Lembro que ele comia uns bichinhos do amendoim, uma praga de amendoim que é tipo um besourinho, bem pequenininho. Aquilo é proteína pura né? E eu ficava fissurado com aquilo, mas não tinha coragem. E como ele tinha unha grande, enchia a mão e comia. Isso era excepcional. Então o cara do instrumento é o Lelé. O Lelé da Cuca (risos). Uma outra coisa que me impulsionou fortemente para me tornar músico foram os Guns and Roses, a primeira coisa de arte que fiz foi um clip com as músicas do Guns and Roses. Eu não tocava nada, a gente tocava o que se chama “guitarra no vento”. O Felipe tocava bateria no vento e eu guitarra. Tem uma fita até hoje desses clipes. Eu acho que a minha faceta de compositor começa por aí. Outra coisa também que acho que aguçou esse meu lado de compositor se relaciona ao cinema, eu via os filmes e reproduzia os filmes de ação com os bonequinhos, eu montava cidades de isopor, aquilo ficava dias até minha mãe desmontar tudo. Eu não ia parar de brincar nunca (risos). Para mim o letrista está aí também, tem a coisa da criatividade, da montagem, tem a imitação da história. Você quer contar história, quer contar o mito. Eu tenho essa nítida impressão de que eu troquei esse brinquedo pela música. Eu sempre fui uma criança obesa, gordinha, e quando cheguei na fase da pré adolescência eu engordei muito e tive que emagrecer pois estava uma coisa insuportável. Isso tudo parece que não tem a ver, mas na verdade tudo se interliga. Quando eu começo a emagrecer também começo a tocar violão.


Daniela Aragão: Bate com o lance da auto estima né?

Kadu Mauad: Sem dúvida


Daniela Aragão: Daí bate em você possivelmente esse lance da performance, do violão estar associado ao seu visual, a maneira como você vai se mostrar ao público.


Kadu Mauad: Gravando nos clipes, me vendo nos clipes, vou emagrecendo e tal


Daniela Aragão: Mas você é um galã, está a cara do Cacaso com esse cabelo (risos)


Kadu Mauad: Eu nunca levei isso a sério, sou exibido mas nunca me coloco como um galã. Quando eu parto pra música não quero fazer mais as músicas que os outros faziam, eu quero fazer o “meu filme”, tal como quando eu era pequeno. Daí pensei, já que eu vou tocar violão, tenho que escrever letra. Então comecei meio que a aprender a tocar violão e escrever poema para ver se eu conseguia fazer letra de música.


Daniela Aragão: E o que é mais pulsante em você é a composição, a palavra? A palavra cantada?


Kadu Mauad: Acho que para mim é a palavra falada, depois eu fui ver com o Luiz Tatit. A diferença que há entre um e outro, a palavra falada pode ser jogada fora e a palavra cantada é a palavra que foi domesticada. Esse canto é uma palavra domesticada. Eu prefiro colocar como a palavra.


Daniela Aragão: Você compunha melodias?

Kadu Mauad: A melodia acaba ficando em segundo plano, entre todos aqueles textos que escrevi na adolescência um deles se tornou uma parceria com o Roger Rezende, que é o “Preto e Branco”, gravado pela Lívia Lucas. Quem primeiro fez a gravação dessa canção foi o Dudu Costa, uma gravação muito bonita que definiu a levada.


Daniela Aragão: Você enquanto letrista veio fazer parte de uma geração mais jovem e justamente com os mesmos interesses. Eu confesso até que não lidei muito com vocês, peguei a “velha guarda”, os formadores: Márcio Hallack, Kim Ribeiro, Helinho Quirino, João Medeiros e por aí vai.


Kadu Mauad: A gente flertava né? Eu me encontrei umas duas vezes com você, me lembro de uma vez quando a gente estava no Espaço Mascarenhas e acho que você falava sobre uma oficina de música que iria dar.


Daniela Aragão: Ah sim, a convite do Roger Rezende eu tinha ficado encarregada de dar uma palestra sobre a história mais recente da música popular brasileira relacionando com o contexto daqui de Juiz de Fora, que é de uma riqueza ímpar.

Kadu Mauad: Você começou a cantar Rosa do Pixinguinha. Muito bonito! E isso me faz lembrar de quando eu comecei a tocar Bossa Nova, “Coisa mais linda” do Carlos Lyra e Vinicius de Moraes


Daniela Aragão: Isso é lindo


Kadu Mauad: Daí descobri uma gravação com a Gal Costa no songbook do Almir Chediak e depois descobri uma gravação com o Caetano, no disco Qualquer coisa, se não me engano. Daí nessa época marco com o Roger um primeiro encontro para mostrarmos canções. O Roger me passou exercícios no violão (toca). A partir daí ele falou: “Cara vai estudar harmonia lá em Juiz de Fora”. Ele também é de São João Nepomuceno, mas na época já estava morando no Rio. Nós somos tricolores, somos de São João Nepomuceno e temos gênios completamente diferentes um do outro. A partir daí comecei a acompanhar o Roger toda vez que ele vinha do Rio, eu ficava quatro, cinco, seis horas vendo ele tocar, bebendo todas (risos). Isso bem na adolescência, por volta dos 15 anos. Foram uns três anos intensos. Numa dessas vindas a Juiz de Fora entrei no Scala Escola de Música, no balcão estava o César Tabet e a Ellen que toca teclado. Muito timidamente falei com o César que queria estudar música, daí ele pegou uma folha com cifras e outra com pauta, ou seja, uma partitura e mandou eu escolher: “- Você quer isso ou isso?” (risos). Eu apontei para a partitura.


Daniela: Vamos considerar que o design da partitura é muito mais bonito né?


Kadu Mauad: Então ele daquele jeito falou “Vamos marcar aula para o senhor”. Eu passei a vir todo sábado, saía sete horas da manhã lá de São João de ônibus, vinha para cá, tinha aula até meio dia, pegava outro ônibus e retornava. Fiquei de sete a nove meses fazendo isso. Um dia ele virou para mim e falou : “- O senhor gosta de música, está há sete meses vindo ter aula com esse maluco”. E o César hoje é um amor na minha vida, um querido, um cara que eu levo para a minha vida. E lá que ele soube que a eu era da terra do Emerson Nogueira, isso em 1995, o Emerson da versão acústica. “- Que agudo lindo tem o Emerson e você também é da terra de Roger Rezende. Roger é o moço da alma azul”, disse o César.

Daniela Aragão: Mas que imagem linda para o Roginho


Kadu Mauad: E isso eu nunca mais esqueci, foi com o César que eu descobri que o Roger tinha alma azul. E eu queria ser o Roger


Daniela Aragão: E embora você manifeste todo o tempo essa sua imensa admiração pelo Roger, seu estilo é diferente. Ele traz bem marcado esse legado dos grandes sambistas, o Paulinho da Viola, o Roger traz toda a elegância no canto e na postura. As harmonias do Roger são muito bem construídas, ele é um músico completo, falei isso com ele na entrevista que fizemos e após ouvir esse seu último cd que é impecável. Você só está se ligando as “pessoas boas”, gente que faz.

Kadu Mauad: Lá em São João o cara que me emprestou o violão para eu ver se levava jeito foi o Paulinho Cri Cri, que nos deixou esse ano. O Paulinho é uma referência para o Emerson Nogueira, Roger Rezende, Aldo Torres, Ricardo Itaboray, enfim, para gerações lá em São João Nepomuceno. Como eu sou muito ansioso, eu lembro que eu fazia muitas perguntas a ele, tipo se todo mundo seria capaz de aprender e tal. Ele falou que uns desenvolvem mais outros menos, mas o que nunca pode é deixar de estudar. Eu não queria um violão de primeira, sim uma guitarra por causa do Guns and Roses. Depois começo a ver violão erudito com o Paulo Murilo, daí aprendi todos os prelúdios que o pessoal do violão toca.


Daniela Aragão: E isso influenciou o seu amadurecimento enquanto letrista?

Kadu Mauad: Eu acho que a coisa do estudo todo da música me deu base suficiente para eu tratar uma letra numa música. Hoje eu não tenho medo de música, se eu tenho que aprender uma música para a letra melhorar eu vou e pego (mostra no violão). Eu tenho um tipo de som no violão, isso tudo ajudou embora eu não tenha levado isso tanto a fundo.


Daniela Aragão: Você não quis ser um virtuoso, você é um músico que toca bem, se acompanha bem, que tem uma noção de harmonia, mas não é um virtuoso.

Kadu Mauad: Com a vinda do Roger para Juiz de Fora por volta de 2001 eu sugeri que nós ensaiássemos. E num desses encontros no carnaval, a gente pra lá de Bagdá (risos) eu sugeri que fizéssemos uma marcha que até hoje não acabou, é assim: Chora chora chora de rir que faz bem/chora chora chora morena.


Daniela Aragão: Então aí deu início a parceria entre vocês?


Kadu Mauad: Eu já tinha entregado uma letra para ele na época que era o “Preto e Branco”, isso em 97. Isso do “chora de rir” já é 2001, quando eu estava começando a ir para o Rio estudar na sala Sidney Miller, na rua da Alfândega. A escola Portátil estava começando a voltar, hoje ela está na UniRio. E lá eu conheci o Hermínio Bello de Carvalho, quando ele tinha casa em Três Rios. E as coisas foram tomando um rumo que nesse aspecto eu deixei me levar mesmo. E nisso o Roger estava vindo para cá, eu indo para o Rio e ele vindo para Juiz de Fora, esses movimentos. Eu estudando, passando final de semana na casa do Hermínio e nisso eu comecei de fato a fazer música com o Roger.


Daniela Aragão: E mergulhando nessa coisa, quase de uma forma “essencialista” na Música Popular Brasileira mesmo, que te trouxe a influência do Roger e os diálogos com o Hermínio. Isso tudo que vai resultar nesse seu disco inaugural e que eu não vejo muita influência do rock propriamente dito. Eu vejo uma coisa muito mais música popular brasileira na sua amplitude, do que aquela coisa do Guns and Roses.


Kadu Mauad: O que tem do rock, o que ficou do rock no Avatar é a atitude, o rock nem sempre tem distorção, ele é muito mais a maneira do como vamos fazer à vontade e a coisa acontecer, do que simplesmente um ritmo. O rock não é necessariamente um ritmo, assim como o jazz não é , o choro não é, é linguagem musical. Mas o rock é a base do Avatar, e eu escolhi o rock porque é a base da minha música. Mas quando eu começo a coisa com o Roger eu esqueço do rock.


Daniela Aragão: Eu gostaria que você falasse mais um pouco sobre sua amizade com o Hermínio. Certamente ele deve ter sido fundamental no seu percurso e processo de composição. Ele descobriu Clementina!


Kadu Mauad: Quando eu tenho que falar do Hermínio, a primeira imagem que vem é a Clementina. Daí eu descobri mesmo quem era Clementina, lá em casa eu já tinha escutado uns discos, aquele disco bonito que ela está com um vestido de renda em pé. Aquele outro que tem o João da Bahiana, Pixinguinha. Com o Hermínio eu conheço realmente o que é trabalhar com música popular brasileira, o que é música brasileira, quem são essas pessoas, qual a importância delas na cultura brasileira, o que essa cultura de música definiu, o que ela mostrou do caráter brasileiro. Outro dia eu estava vendo o Bráulio Tavares falar de dois livros sobre música brasileira, na América Latina não foi a pintura, o teatro, a fotografia, a literatura que mostrou o que é aquele híbrido, aquele povo, foi a música popular. A música popular mostra a identidade, quer ver o que é o brasileiro, vá ouvir música popular, o que é o argentino, vá ouvir música popular, o que é o peruano, vá ouvir música popular, até o cubano. Não é o teatro, não é a pintura e definitivamente até hoje não é a literatura, está começando a ser. É uma coisa muito maluca. Eu percebi que a oportunidade era única, o Hermínio sabia que eu estava sendo oportunista, a gente não pode ser hipócrita . Eu metralhava ele de pergunta, eu perguntava ao ponto de um dia ele me mandar um email e falar “ Eu adoro a sua curiosidade e as suas perguntas”


Daniela Aragão: E vocês ainda estão se falando?

Kadu Mauad: Claro, eu ia semana passada lá só que me deu uma amidalite.


Daniela Aragão: Ele é uma história viva


Kadu Mauad: Sim. Quando eu fui pela primeira vez encontrar o Hermínio fiquei louco, passei a noite em claro, comprei a primeira passagem, 5 horas da manhã e cheguei lá por volta de 7, 8. Fui para a casa dele, tomei café da manhã. De lá a gente já bateu um papo, ele muito ritualístico, virou para mim e falou “Na minha casa não tem droga, a única droga aqui é vinho e música”.

Daniela Aragão: Maravilha, mas ele bebe bem (risos)

Kadu Mauad: Daí ele falou para eu ligar para minha mãe e falou com ela que eu estava rodeado de amigos e bem cuidado. Eu vi ali a grandeza daquela pessoa e até me acostumar a chegar lá, ele sempre muito anfitrião, sempre ciceroneando, me apresentando como parceiro dele. Chegamos a fazer uma primeira música, que coisa né? Eu nunca tinha recebido aquilo, eu estava com 21, 22 anos.

Daniela Aragão: Estamos falando essencialmente do Kadu letrista, mas o que me chamou muita atenção foi sua voz. Eu não sabia que você cantava tanto. Eu te conhecia como compositor , quando peguei para ouvir o disco chapei. Você é daquela linhagem do Zé Renato, Claudio Nucci, timbre limpíssimo, o alcance dos agudos cristalinos.

Kadu Mauad: É o Roger, essa galera. Eu queria ser o Roger (risos)

Daniela Aragão: É diferente

Kadu mauad: Eu acho que a diferença é o rock and roll

Daniela Aragão: Você estudou canto?

Kadu Mauad: Eu tenho noção de técnica vocal. Fiz com a Simone, que foi casada com o Ciro Tabet, fiz um pouco com a Jovelina.

Daniela Aragão: Na verdade você se preparou em todos os sentidos. Pode até dizer que veio de um processo intuitivo, mas você foi se armando, depurando em várias vertentes.

Kadu Mauad: Isso é antigo, estudei técnica vocal faz tempo.

Daniela Aragão: O Avatar não é um disco de um compositor que está cantando, por exemplo o Paulo César Pinheiro ou Vitor Martins. Sueli Costa por exemplo é uma compositora fantástica, mas não é cantora. Você é cantor, tem um timbre bonito, dinâmica, sabe cantar.

Kadu Mauad: Pois é, muda. Essa música pede isso e tal

Daniela Aragão: Pois é, tem o cantor e o compositor. Eu te considero um cantor e compositor. O compositor que é essencialmente compositor somente às vezes ele vai cantar como registro mesmo. Mas de forma nenhuma ao compositor dessa categoria cabe aplicar qualquer critério de julgamento enquanto cantor.

Kadu Mauad: Eu sempre gostei de cantar e desde cedo eu percebi que eu tinha que encontrar uma interpretação para cada música, uma persona. Isso no disco foi um trabalho em conjunto com o produtor. Eu vejo muito no meu canto traços do Zé Renato, mas vejo também o Djavan e o Lenine.

Daniela Aragão: Acho que eu aproximei você do Zé Renato e do Claudio Nucci no sentido da semelhança de timbre, não muito de concepção. Pensei em termos de extensão de voz e tal.

Kadu Mauad: No Djavan e no Lenine eu peguei pedreira (risos) pois são ambos donos de estilo. Eles têm estilos muito definidos. O Lenine foi um cara que quando saiu o “Olho de Peixe” impactou , acho que foi bom para todo mundo. Eu coloco o “Olho de Peixe” na mesma proporção que foi o João Gilberto com Chega de Saudade para o Caetano, o Edu, o Chico. O “Olho de Peixe” para mim foi uma coisa, pensei tem rock, tem swing, tem soul, mas é brasileiro. O João Bosco também é uma maravilha.

Daniela Aragão : É interessante quando você cita o João Bosco, ele tem muito da Clementina. Aquele disco dela da sandália, da capa do Elifas Andreato, os pés dela na areia. O João Bosco chupou muita coisa da Clementina e isso ele mesmo confessa.

Kadu Mauad: A Clementina forjou, temperou o João Bosco. Tanto que até hoje em todos os seus discos ele rende homenagem, faz uma deferência a Clementina. Nesse último ele gravou “Ingenuidade”, que é do repertório dela. Ele procura até fazer música para ela. “Na onda que balança”, que foi um disco que ele gravou fora “Mãe de quelé, mãe de Pixinguinha, dou uma palmadinha no bumbum é”.

Daniela Aragão: Eu acho que no decorrer da carreira o João Bosco vai ficando cada vez mais virtuoso em termos de interpretação vocal. Os discos iniciais que marcam a parceria dele com o Aldir Blanc trazem o canto mais quadradão. Essas influências vão aparecendo mais na medida que o João vai se soltando, me parece.

Kadu Mauad: Eu tenho uma influência no canto de uma cara que eu gostaria de escrever igual, que é o Aldir.

Daniela Aragão: Acho que é a parceria do Aldir com o Guinga, quando ouvi o “Avatar” me veio à cabeça um dos primeiros discos que inaugura a parceria deles, um disco dos anos noventa se não me engano, chamado Simples e Absurdo. Belíssimo. A parceria do Adir com o Guinga traz um processo de composição bastante diferente, diríamos que é menos swing e mais hermetismo tanto na elaboração dos versos quanto na música. Só pegar aquela canção “Catavento e girassol”. E não me lembro de ouvir o Aldir cantando, acho que naquele disco em comemoração aos seus 50 anos ele canta uma. Então parece-me que você traz algo dessa concepção musical da parceria Guinga e Aldir, não é pouco não né?.

Kadu Mauad: Então para mim os pontos fortes são Djavan, Lenine, Zé Renato e claro, o Roger.

Daniela Aragão: Interessante é que o Roger traz muito a pulsação do samba e você não.

Kadu Mauad: (Mostra uma caixa com a obra de Clementina) Para você ter uma idéia, quando eu estava com muito contato com o Hermínio eu estava muito imbuído da Clementina, ouvindo muito mesmo, submerso naquela coisa, entumecido da idéia da Clementina. Num domingo azul, eu estava lavando louça e ouvindo um sonzinho e começou a tocar uma música do primeiro disco do Milton. E eu ouvindo a Clementina, aquela coisa toda, de repente eu escuto a Clementina cantar uma letra em cima dessa melodia, a minha imaginação borbulhando né? De repente eu começo (cantarola) “Catavento gira pra me avisar que a chuva já vem/roupa no varal é melhor tirar que vai se molhar/o menino gira com o papagaio voando no céu/mãe tem pressa não que raio não cai no mesmo lugar/ leva o vento do pensamento os bois não sabem voltar/no curral é que se vai/pra fazer daqui eu vou/minha mãe já me avisou”. Eu fiz isso lavando louça, a coisa da intuição, a quarta dimensão que o Hermínio chama. A coisa que tá morninha, adormecida que a gente não tem consciência. Aí eu fui ver a música era “Catavento”. Clementina, Milton e eu acerto o nome da música, é claro que eu sabia o nome da música mas naquele momento foi uma letra que surgiu mesmo, tanto que eu tenho ela de memória. Daí liguei para o Hermínio, mostrei pra ele e falei aconteceu isso e isso. Ele “que bonito meu filho, que bonito”.

Daniela Aragão: Um afeto paterno, bonito mesmo

Kadu Mauad: É, bem paterno mesmo. Ele falou “bem você deve estar querendo mostrar isso para o Milton né?”Falei: é exatamente. Aí ele falou “eu posso escrever um bilhete pra você e você encontrar o Milton”. Aí que vem o ensinamento do Hermínio “o caminho é seu, eu não vou te ajudar nisso porque eu vou estar atrapalhando a sua vida”. Aí eu esperei o momento propício, e quando o Milton veio gravar um DVD com os meninos de Araçuaí eu bati na porta do Central e falei – olha eu preciso entregar um documento, tenho um bilhete aqui do Hermínio Bello de Carvalho e tal e fiquei lá esperando. Fui no primeiro dia e não esperava encontrar com o Milton e fui sem nada, só para contar a história para ele. E nesse primeiro dia o Milton puxou uma cadeira e falou “senta aí e conta”. No que o Milton puxou uma cadeira para eu sentar comecei a tremer (risos). Ele viu que eu estava nervoso, fiquei daquele jeito (risos), depois me mantive calmo e contei a história. Daí contei tudo, voltei no dia seguinte fiquei seis horas esperando, ouvi a gravação dos takes do DVD. Ele me disse que tinha feito uma promessa de não colocar letra naquela música “pra mim não importa, importa é você ter esse acontecimento, esse fenômeno” mnemônico, intuitivo, seja lá que nome que a gente vai dar para isso. Fico muito feliz, pois isso é uma marca do meu contato com o Hermínio, a Clementina e já saber que a Clementina canta “Circo marimbondo” no disco do Milton. O Hermínio trouxe um monte de coisas, trouxe carinho, profissionalismo, trouxe um modelo de trabalho para mim. Eu pensei, cara esse sujeito não se chama Hermínio Bello de Carvalho porque ele foi batizado com esse nome, esse cara se chama Hermínio Bello de Carvalho porque ele trabalha como um escravo mesmo, ele se dedica. Foi uma pessoa que trabalhou muito tempo acho que ligado ao porto, alguma coisa de exportação, mas chega um momento de sua vida que ele larga, aposenta não sei, e vai viver de música. Desde 16 anos de idade se metendo nisso , sendo corajoso mesmo, se metendo lá na porta da Rádio Nacional falando que era sobrinho das irmãs Batista e pega amizade com eles, por aí.

Daniela Aragão: E você está cercado aqui de tantos livros. Você é um leitor ávido?

Kadu Mauad: Sou um leitor ávido e voraz. Leio o tempo todo, só não leio no banho porque molha.

Daniela Aragão: Tem livros de plástico, mas para crianças (risos). Leitor mais de ficção, poesia?

Kadu Mauad: Eu estou me descobrindo um leitor de tudo, como eu sou um ouvidor de tudo, estou procurando ser um ledor de tudo. Tem caras que são bíblicos, então você não pode fugir do Guimarães Rosa. Quero ler um cara que todo mundo diz que leu na infância e eu não li, então estou mergulhando no Monteiro Lobato. O Drummond é um puta de um poeta, fácil, ele não é difícil. Ferreira Gullar, na crônica o Rubem Braga. Gosto muito do Camões, o Geraldinho Carneiro é um camoniano né? Tem Geraldinho aqui na estante, claro.

Daniela Aragão: Ele está lançando agora um livro de sonetos shakeasperianos

Kadu Mauad: Que bacana. Eu gosto dos clássicos, gosto de filosofia, tem Espinoza, gosto dos ensaios do Montaigne. Estou terminando de ler o “Invenção de Orfeu” do Jorge de Lima que é um épico moderno que passa incólume. As pessoas devem conhecer esse épico moderno que é bom pracaralho. Estou lendo Confúcio. O Jorge de Lima fez o “Circo Místico”.

Daniela Aragão: Que foi dar naquele lindo musical do Edu Lobo e Chico Buarque

Kadu Mauad: Ele faz um turbilhão de epopéias no Invenção de Orfeu, esse livro é dedicado ao Murilo Mendes.

Daniela Aragão: E o Vinícius de Moraes?

Kadu Mauad: A música me levou para a literatura, citações de escritores, saber o que os letristas escreviam, o contato com o mundo da literatura. O meu pai também sempre brincou com palavras, os trocadilhos que a gente gosta muito de fazer.

Daniela Aragão: Você compõe letra de música e faz poemas também?Essa é uma longa discussão entre poesia e letra de música, o Cacaso por exemplo é um poeta que passou também a escrever letras em parceria com Nelson Angelo, Sueli Costa, Toninho Horta e por aí vai. O Tite de Lemos também que era poeta e letrista. Você tem poemas que já foram musicados? Você é também poeta?

Kadu Mauad: Tem gente que me chama de poeta, isso aí é um lugar comum. Teve um momento em que a letra de música e o poema de livro eram a mesma coisa pelos aedos, os poetas gregos. Tinham até os cegos que cantavam e contavam histórias.

Daniela Aragão : O princípio é a oralidade

Daniela Aragão: A Ilíada, a Odisséia eram grandes poemas épicos cheios de histórias. Na verdade esses poemas são compilações de muitas histórias, fazendo um paralelo com os irmãos Grimm que pegaram várias oralidades e transliteralizaram. Hoje para mim existem claramente dois gêneros, o gênero literário canção e o gênero literário poesia.

Daniela Aragão: Você diz que gosta do Geraldo Carneiro, ele é poeta e letrista. Tem composições com o Francis Hime, Egberto Gismonti.

Kadu Mauad: As vezes esses gêneros se encontram, é possível as vezes ler uma letra de música que foi construída em cima de uma melodia, mas que se a gente pegar para ler sozinho as vezes tem força, é um texto. Aquilo funciona, não tem problema não ser poema. Acho que a gente não pode transformar o encontro dos gêneros num problema. Uma letra de música pode vir a ser um poema e vice versa ou algum dos dois ficar estanque no seu gênero e servir muito bem ao seu gênero. O Fiorese comentou certa vez que estava mostrando em sala de aula os cantares, tem até um livro “Fremosos Cantares”. A gente lê aquilo e não dá para entender muito bem, pois é um português arcaico pois não tinha ainda a fundação da língua portuguesa. Uma coisa meio híbrida entre português e espanhol. Eram coisas para serem cantadas, então lemos aquilo e achamos muito bobinho, mas ali já tem um gênero de canção, sem melodia não quer dizer muita coisa. Eu estou aprendendo a ser poeta de livro, a escrever poesia e já entendi melhor como é fazer letra de música e não vejo problema algum em misturar os dois. Eles são irmãos, eles já estiveram juntos. No disco do Roger “Temporã” eu fiz para ser um poema, só que quando a gente vai ler tem uma carinha de letra de música.

Daniela Aragão: Eu escrevi um texto faz alguns anos chamado “palavras simples, poéticas, boas de cantar” que foi publicado no jornal de Cataguases, aliás aquela cidade ainda cultiva bem seus poetas, a Revista Verde criada pelo Rosário Fusco ainda rende alguns frutos. Dediquei até ao meu saudoso amigo João Medeiros, que foi o cara que mais me ensinou sobre música, ele sabia tudo.

Kadu mauad: Conheci o João, conversávamos muito no Café Creme dos Schio. O João teve uma importância fundamental para a música popular brasileira, Juiz de Fora principalmente.

Daniela Aragão: O João era a música viva e ao mesmo tempo sempre muito antenado no que estava rolando de novo. Foi ele que descobriu Sueli Costa com uma canção dela que se chamava “Balãozinho”, fizeram juntos “Por exemplo você”, que a Nara gravou. Depois “Ator de cinema”, feita também com a Sueli na casa do meu tio Luiz Affonso,o tema era o universo deles, a paixão que o meu tio cultivava pelos grandes filmes. Essa a Bethânia gravou também. Minha primeira gravação foi no disco do João em 2000 "João Medeiros poema e canção",pouco antes dele partir. Essa era uma canção em parceria com o Damásio chamada “Sol da tarde”, tinha uns scatchs lindos feito pelo Helinho Quirino. Acredita que foi a primeira faixa do disco? Muita pretensão minha (risos), eu uma menina de 24 anos, cruinha, cruinha, conhecendo estúdio, com medo dele (risos). Fora todo o conhecimento que ele tinha de Jazz também, sabia de cor solos inteiros do Miles Davis. E aquele livro que ele escreveu sobre a história musical de Juiz de Fora fica como um registro eterno. Eu falo que o João me ensinou a ouvir, passamos meses juntos ouvindo um disco da Telma Costa (irmã de Sueli Costa) que ninguém conhece, atentos a cada detalhe da inflexão da voz dela, a guitarra do Hélio Delmiro. João faz muita falta. Essa diferença entre letra e música eu gosto de exemplificar com aquela linda canção “Adeus”, quando se tira a música e fica somente com os versos do Torquato a canção perde muito, então isso é letra de música.

Kadu Mauad: Pois é, ela precisa do suporte melódico para ser compreendida. No disco apenas a faixa sete que fiz como poema, como eu estava fazendo o disco percebi que dava para passar aquilo para letra, então eu comecei a escrever mais simples. Começa num texto muito denso até terminar numa coisa muito objetiva. Vai indo num hermetismo até ir se despindo, como num ponto “a dor na cama do quarto é prazer” é muito simples, “a dor na chama do amor é paixão/ se dói o amor não dá pra esconder/ daí é saudade não tem jeito não”, que resvala na poesia popular, na poesia folclórica, não gosto desse termo, na poesia de cordel. Se a gente pegar esses versos e quebrar no meio vira uma redondilha menor, de cinco sílabas. A gente pode chamar aquilo de um cordel de cinco sílabas, vira uma coisa popular. Eu fiz um dodecassílabo mas não é clássico. Finalmente achei a música do Chico Buarque que eu queria exemplificar “Viver do amor”, que é meio Vinícius de Moraes, o Chico mesmo fala “Eu escrevo meio que com o Vinicius no meu ombro”.


Daniela Aragão: Um receituário, “Para viver um grande amor”

Kadu Mauad: “Pra se viver do amor há que se esquecer o amor/ há que amar sem amar/ E sem prazer/E com despertador como um funcionário”. E tem Hermínio nisso aqui, e eu soube pelo Hermínio que por si só acho que soube pelo Paulo César Pinheiro, que ele Hermínio é uma influência para o Chico. Olha que loucura. “Há que penar no amor/ pra se ganhar no amor há que apanhar e sangrar e suar como trabalhador”

Daniela Aragão: Já compôs para cantora?

Kadu Mauad: Estou compondo agora para a Carol Serdeira, ela me pediu. Eu falo que sou parceiro da Carol de empreendimento, somos empresários da canção.

Daniela Aragão: Se eu fosse cantar uma sua, escolheria “falsa idéia”, uma valsa linda.

Kadu Mauad: Falsa idéia foi a primeira parceria com o Lucas Soares. Ele fez a valsa, entregou para mim no outro dia e no final desse mesmo dia eu entreguei a letra. A vontade de fazer a parceria (canta).

Daniela Aragão: Adoro o último verso que diz assim “Fora da ribalta cai a máscara da atriz”, que me remete a Beatriz do Chico Buarque




Kadu Mauad: Tem isso tudo, a gente faz as coisas sem racionalizar na hora qual a influência. Depois eu vi que tinha a Beatriz do Chico aí. Tem as metáforas de passo, pé e caminhada do Chico. Tantos passos na areia que eu perdi meus pés, aquela canção dele com o Ivan Lins.

Daniela Aragão: Ah Renata Maria “ela era ela era ela no centro da tela daquela manhã tudo que não era ela se desvaneceu ”...Linda essa canção,a Leila Pinheiro fez um registro bonito também.

Kadu Mauad: O Chico usa no Budapeste a coisa do relógio e do passo, nisso a gente acaba também desenvolvendo. Quando você quer fazer uma letra bem feita acaba se mirando.


Daniela Aragão: Tem uma espontaneidade na sua canção, um fluir. A sensibilidade que se capta no cosmos mesmo, meio inexplicável. A Sueli Costa já comentou sobre isso comigo. Bate e a gente nem sabe de onde vem.

Kadu Mauad: É o porque, pra quem e de que que a gente não sabe.

Daniela Aragão: Maravilha kadu. Foi um prazer imenso e uma honra conversar com você. Espero que possamos ainda fazer algo juntos e que você me mostre umas músicas para eu cantar.

Kadu Mauad: Com certeza Daniela, uma honra poder trabalhar com uma artista como você. Tenho guardado seu belo disco sobre o Cacaso, os arranjos, a voz, tudo muito bonito. Vamos abrir uma parceria então.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013