sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Entrevista com o pianista, compositor e arranjador Dudu Viana



Daniela Aragão: É uma satisfação estar aqui agora ao seu lado depois de tanto tempo. Emocionou-me te ver acompanhando Wanda Sá no Café Pequeno. Vamos falar sobre sua carreira, composições, novo cd. Tenho sempre feito a mesma pergunta a todos os entrevistados, como começou a música em sua vida?

Dudu Viana: A música começou em minha vida da seguinte maneira, meu pai era músico, meu avô é músico, meus tios são músicos, minha mãe não é musicista mas poetisa, sempre escreveu. Todos os irmãos por parte do pai dela são músicos, meu tio que era coronel da polícia militar da banda de música de Belo Horizonte, Marcos Viana é meu primo. Aos dez anos vendo o meu pai tocar num baile comecei a estudar piano. O piano erudito estudei durante um tempo, depois fiz muito baile, comecei a estudar com a Ana Maria Vieira Ramos, comecei a tocar música instrumental e ao lado do contrabaixista Dudu Lima trabalhei durante cinco anos.

Daniela Aragão: Você tem formação em conservatório?

Dudu Viana: Sim, mas não cheguei a concluir o curso técnico. Resolvi ir para o Rio para fazer faculdade de música com habilitação em composição. Lá comecei a diversificar, fiz o meu primeiro disco, fui catando um informação adquirida em vários lugares, muitos trabalhos em shows. A composição em minha vida é mais recente mas o lance de tocar é anterior, comecei a fazer shows com doze para treze anos e comecei a estudar piano com nove.

Daniela Aragão: Você já estava vocacionado, sabia que seria um músico profissional.

Dudu Viana: Sim. Eu tinha outros talentos também, desde os sete anos que mexo com computador, informática. Só vim a entender mais tarde o que é a vida do músico profissional, que não é aquela coisa mágica, inalcançável, hoje é uma coisa mais disciplinada pois estudamos, pesquisamos. Temos que vivenciar essa polivalência onde o músico tem que ter noções técnicas de composição, arranjo, saber a utilização do instrumento dele também de maneira didática no momento em que for dar aula. Eu não sou apenas um concertista de piano nem arranjador, faço um pouco de cada coisa, mas hoje em dia direciono mais. Mas até eu entender isso que diz respeito a minhas possibilidades enquanto músico demorou um pouco. Eu fui estudando no segundo grau, levando a música como hobby até que chegou o momento em que me decidi definitivamente por ela, larguei a engenharia elétrica e fui fazer música.

Daniela Aragão: Seu primeiro cd foi financiado pela Lei Murilo Mendes não é?

Dudu Viana: Sim, foi aprovado em 2005 e lancei em 2008. Morei um tempo em Milão e pedi a prefeitura um prazo maior. Esse disco é composto de dez faixas em que oito composições são minhas, uma releitura do noturno de Chopin, opus 9 n2 em mi bemol cujo arranjo numa levada jazzistica é muito legal. Tem uma música minha chamada Eduarda, fiz com músicos aqui de Juiz de Fora que são Dudu Lima, Berval Moraes, Alexandre Schio, Glaucus Linx, Jonathan que é um super contrabaixista, tem meu primo Daniel. Foi um disco que não tem muito o conceito de uma obra fechada, como se fosse a transposição de um momento de transição em que eu vivia na época, da música popular para a música erudita que estava vindo muito sobretudo na questão dos arranjos, a dúvida entre o elétrico e o acústico então tem faixa de piano, faixa de sintetizador. Tem coisa muito moderna, tem chorinho, é uma salada esse primeiro disco. Agora estou fazendo um disco que é uma obra mais fechada, com uma concepção mais fechada mas que mantem a mesma formação do outro cd, ainda tem a questão do conceito quanto a formação das melodias e harmonias e chama-se Nublado. Inédito ainda, uma parceria minha com Walmer Carvalho, participam ele Wagner de Souza trompetista, Gladston na bateria. Foi tudo gravado no Nave ao vivo e numa tarde.


Daniela Aragão: O estúdio Nave é um espetáculo e você com todo esse vigor criando no calor da hora, muito boa essa pulsação.

Dudu Viana: Quisemos preservar esse vigor e frescor. Estava engavetado desde 2008.

Daniela Aragão: Poderíamos dizer que você estava no entremear entre o jazz e o erudito?

Dudu Viana: Não, na verdade eu estudei a música erudita quando criança mas sem entender muito porque eu estava fazendo isso. O meu trabalho sempre foi focado em música popular e quando entrei na faculdade começou aquela avalanche abrindo outros olhares para outras questões musicais. Então eu fiquei um pouco dividido entre sonoridades diferentes como registra o meu primeiro cd. Esse atual já está gravado, nó vamos mixar com muito cuidado e deve sair no começo de 2011. Oito faixas com seis composições minhas, duas em parceria com Walmer Carvalho.

Daniela Aragão: Vim recentemente a descobrir sua faceta de arranjador que me agradou muito através do ótimo Borandá meu Camará, do Roger Rezende em que você foi o responsável pela concepção dos arranjos.

Dudu Viana: Posso falar que de uns três anos para cá estou centrando minha carreira mais no lance da produção, arranjo. Faço a direção musical dos artistas, preferi ficar no background e lidar com tudo desde a concepção. Sigo paralelamente a minha carreira solo, mas gosto muito de fazer arranjos para sopros, arranjos para cordas. Tem a composições eruditas da faculdade que tenho que fazer, peças para orquestra, peças para flauta, quarteto de cordas, mas esse lance do trabalho como arranjador me agrada muito. O trabalho com o Roger foi demorado pois nos apegamos as minúcias, selecionamos as canções, mexemos nos andamentos, na sonoridade. Tem a questão da tonalidade, experimentamos as tonalidades durante todo o disco procurando dar cores diferentes, texturas. Tem música que tem bateria, percussão, sopro violão e baixo, tem música que é só voz e violão, quer dizer, trabalhar o disco como obra mesmo, não só faixa a faixa mas as letras, como o arranjo pode facilitar a compreensão daquela letra, daquela mensagem. Isso é o que tenho trabalho mais e felizmente tenho obtido resultados bacanas.

Daniela Aragão: Na entrevista que fiz com Roger Rezende ele se mostrou muito satisfeito com seus arranjos e comentou sobre sua sabedoria e sensibilidade para manter a essência musical dele, a marca do Roger Rezende digamos.

Dudu Viana: Cada artista tem uma maneira de trabalhar, o Roger é muito dado, uma pessoa muito generosa pois ele te dá todo o espaço para você apresentar a idéia, ele te oferece alternativas e tempo até que você se acostume a uma idéia nova. Isso é uma questão que nem todo o artista quer, pudemos testar arranjos. Tem músicos também que te entregam uma batata quente e querem que você resolva. Outros artistas que querem interferir até num bemol, numa introdução porque: "- ah eu acho que esse si bemol vai mudar toda a história". Tem artista que vai até o âmago, quer interferir em tudo. Outros te dão mais espaço, cada um tem seu jeito de trabalhar. Procuro sempre tentar manter a intensidade do artista procurando perceber as nuances de cada um e pretendo sempre ser coerente com a mensagem, com a concepção do disco todo, com a idéia original.

Daniela Aragão: Mais transpiração que inspiração?

Dudu Viana: Tenho um professor que diz que é dez por centro de inspiração e noventa de transpiração. Ontem estava conversando com um amigo o qual fiz o arranjo ontem, quando vem a idéia é muito bonito, mas até você fazer aquilo soar bem feito tecnicamente, pois você está fazendo os arranjos para outros tocarem. É preciso um conhecimento sobre harmonia, arranjos e também do desempenho dos instrumentos e do instrumentista. Uma coisa é você escrever uma peça para o Paulo Sérgio Santos tocar e outra você escrever para um iniciante, então você tem que saber para quem está escrevendo. Então nesses noventa por cento de transpiração passa muita coisa dentro da cabeça.

Daniela Aragão: Você trabalhou com muita gente: Mieli, Oswaldo Montenegro...

Dudu Viana: Quando fui para o Rio trabalhei com Mieli, Maria Gadu, faço parte da Rio Jazz Orquestra, Luiza Possi, fiz arranjo gravado pelo João Donato, agora com a Wanda Sá. Muita gente da música pop e sobretudo da bossa nova, tenho uma coisa muito ligada a bossa nova. Depois do falecimento do Durval Ferreira comecei a trabalhar com a filha dele, a Amanda Braga.Fiz trabalho com um cantor da época do Ed Lincon, um trabalho muito legal que agora o João Donato participou e o Marcos Vale. Essa galera do Sambalanço da bossa nova, tem a Karla Sabath que é uma cantora que que fez uma espécie de drumming bossa que mistura coisas eletrônicas. Trabalho com o Roger, tenho um trabalho de gafieira em que tocamos todo sábado no bar Cariocando no Catete. Então é muita gente.

Daniela Aragão: E uma diversidade que te dá um arsenal muito grande enquanto criador. Você está experimentando, conhecendo várias possibilidades.

Dudu Viana: E esse lance de fazer arranjo é muito bacana pois você ao tocar cria um certo entrosamento em que você acaba tendo que circular em tourné, o que prende um pouco. Trabalho muitas vezes dentro da minha própria casa fazendo os arranjos. É muito bom poder misturar esse monte de coisa e abrir a possibilidade de conhecer pessoas.

Daniela Aragão: E os projetos atuais?

Dudu Viana: Estou fazendo o disco da minha esposa Roberta pela Lei de incentivo de Cataguases, estou produzindo dois cantores, um de música brasileira, outro de samba. Outro de música brasileira que consiste numa coisa mais refinada, mais lenta, vamos gravar Sueli Costa que sei que você tanto gosta. Vamos gravar uma música belíssima de Túlio Mourão e Fernando Brant, gravada pelo Milton que se chama Interior, canção belíssima. Esse trabalho vai ser de trio: piano, baixo, bateria. E vou lançar o meu, pretendo rodar para divulgar.

Daniela Aragão: Você foi para o Rio, mas ainda mantém esse contato forte com Juiz de Fora.

Dudu Viana: Sempre venho aqui, estava fazendo show com Silvério Pontes, o Zé da Velha. Sempre estou vindo aqui para uma coisa ou outra, fiz lançamento da Milena, Lúdica Música. Tenho muitos amigos aqui, uma ligação forte com o Dudu Lima, pois foram cinco anos de convivência diária. Foram dois discos e dois DVDs.

Daniela Aragão: Aqui é um celeiro de grandes músicos, gente muito talentosa.

Dudu Viana: Aqui é um celeiro muito efervescente com músicos de padrão internacional. O próprio Dudu Lima, Glaucus que morou anos na França. Vários outros, o próprio Miltinho que trabalha muito tempo com Jô Soares, Joãozinho. Então tenho uma gratidão enorme, pois cheguei em Juiz de Fora e fui acolhido muito rápido, em três meses já estava tocando com os músicos da cidade, fazendo música instrumental. A Lei Murilo Mendes patrocinou meu disco, sou muito grato a Juiz de Fora e tenho um carinho enorme pela cidade. Penso em criar meus filhos aqui, quem sabe. Hoje em dia com as facilidades de transporte, tudo muito rápido.

Daniela Aragão: Tem agenda para Juiz de Fora?

Dudu Viana: Por enquanto não, neste final de ano estou envolvido com quatro discos. Estou fazendo poucos shows e me limitando a fazer shows eventuais quando me convidam, como por exemplo esse com a Wanda Sá. Não estou iniciando trabalhos novos de shows no momento, mas assim que finalizar este ano pretendo prosseguir. Ano que vem no lançamento do cd novo provavelmente farei aqui no MAM, Pró-Música, Belo Horizonte, Rio.

Daniela Aragão: Maravilha, então pé na estrada.

Dudu Viana: Muito bom, foi muito bacana te encontrar no show da Wanda, na Bossa do Leblon (risos).

Daniela Aragão: O prazer foi todo meu, sucesso!

Um comentário:

figbatera disse...

Boa Dani, o Dudu merece!
Um talento que vi crescer e acompanho desde sempre.