quinta-feira, 11 de julho de 2013
Daniela Aragão: Como começou a música em sua vida?
Estevão Teixeira: Às 8 horas da noite do dia 3 de janeiro de 76, quando ganhei minha flauta transversa, eu tinha quinze anos. O Vitor Hallack trouxe essa flauta dos Estados Unidos, que na época era uma coisa inenarrável. Mas antes disso vem a minha família, pois somos muitos irmãos, meu pai e minha mãe tiveram 17 filhos, 15 partos normais. Mamãe perdeu duas meninas logo depois do meu irmão mais velho e mais tarde em 1964 perdi um irmão de leucemia. Foram 15 filhos criados nessa casa aqui e desde garoto eu ouvia música. Meu pai arranhava violão, minha mãe foi candidata a rainha do carnaval em Belo Horizonte, papai quando se casou com ela pediu para que parasse com isso, pois ele era muito caseiro. Então eu sempre me vi envolvido com festa, com atividade artística, minha mãe recita poesia lindamente até hoje.
Daniela Aragão: Família numerosa e talentosa
Estevão Teixeira: Ganhei uma flauta doce em 74, uma veio para mim e outra para o meu irmão gêmeo, o Henrique, conhecido como Godô. Aí começamos a estudar flauta doce, só que ele parou e eu continuei. Com essa primeira flauta gravei arranjos de trio e tal, flautas etc.
Daniela Aragão: Parece-me que na sua família o pessoal se divide entre a medicina e a música não?
Estevão Teixeira: É variado, Dudu por exemplo lida com ciência da religião. Bilinho já foi para a matemática, depois o violão. Tem muito biólogo também. Cada um na sua área, mas todos com a música. Tem várias músicas que povoaram a minha infância “Fiz a cama na varanda esqueci do cobertor” (cantarola). E o Bilinho depois que começou com o violão, eu de calça curta, garoto vendo o Bilinho tocar que foi a minha inspiração maior de harmonia e tal. Muitos carnavais, festas, choros. Então a música na minha vida veio a princípio passando por isso. Passou pela minha mãe cantando também, papai arranhando umas músicas mal tocadas no violão.
Daniela Aragão: E Juiz de Fora foi estimulante musicalmente para você?
Estevão Teixeira: Ah foi e principalmente naquela época, início da década de setenta.
Daniela Aragão: Vocês formaram “A pá” não é?
Estevão Teixeira: Ah sim, mas éramos a “Pazinha”, éramos os filhos, os irmãos mais novos da “Pá”. Antes disso era o “Unidos do abacateiro”, por causa do abacateiro que tinha no terreiro. Eu nem tocava flauta, tocava percussão, tipo atabaque. Eu garoto no Stella, batucajé, eu era o tamboreiro. Eu tocava tambor e cantava. Depois começou a flauta doce em 74, depois em 76 a transversal e 80 o piano. O piano mudou a minha vida, ele foi o divisor de águas para o meu amadurecimento musical, harmonia, composição.
Daniela Aragão: Você resolveu estudar piano?
Estevão Teixeira Resolvi. Papai e mamãe sempre me apoiaram em música, papai queria que eu fosse engenheiro, pois costumo ser habilidoso com as coisas para consertar e tal.
Daniela Aragão: Mas essa sua habilidade construtiva, matemática certamente deve ter te auxiliado muito na sua evolução musical. Na feitura de arranjos, leitura de partituras.
Estevão Teixeira: Acabei no entanto fazendo História, costumo dizer que a minha história com a música foi muito maior que a música da história. Logo no primeiro ano abandonei a história e mudei para o Rio em 1980, daí nessa época resolvi comprar um piano. Meu pai então não entendeu nada, falou: “Meu filho você está se dedicando a flauta deve estudar flauta”. Eu peguei o dinheiro emprestado com a minha irmã Luzia e comprei o piano que mudou a minha vida. Fui morar com o meu irmão Bilinho e o Bré. O Bré logo saiu pois estava difícil para percussão no Rio, hoje a percussão é bem mais valorizada. Eu e Bilinho moramos juntos até que ele se casou com a Neiva e fiquei sozinho. Esse período foi fundamental, pois fiz música na UFRJ, música erudita, voltado para flauta.
Daniela Aragão: Para mim é uma novidade você falar sobre a importância imensa do piano na sua vida. Eu te conheço como o “flautista Estevão”.
Estevão Teixeira: Exatamente, as pessoas me conhecem como flautista. Agora que vocês vão conhecer o meu primeiro disco como pianista, esse que você ouviu um pouco agora. Raramente eu apareci como pianista, mas já tocava piano escondido.
Daniela Aragão: A entrada do piano na sua vida contribuiu com certa mudança na execução da flauta?
Estevão Teixeira: Claro que sim, o piano te dá segurança para tudo, para improvisação. Eu já tinha a minha profundidade com a flauta, no início eu era um doente para estudar, estudava muito. Eu já tinha uma forte ligação com esse instrumento. Em dois anos de flauta eu já estava me apresentando com o Kim Ribeiro, que foi meu professor. Depois o “Lando Magog”, rápido eu estava no palco tocando “Cuidado Colega”, do Pixinguinha. Eu estudava muito, hoje é que sou vagabundo.
Daniela Aragão: Poderíamos dizer que o piano está atrelado a flauta para você?
Estevão Teixeira: Certamente, depois que você se aprofunda num instrumento nunca mais para.
Daniela Aragão: Você também é compositor e arranjador. Qual instrumento você usa mais frequentemente para compor?
Estevão Teixeira: Depende, às vezes componho sem instrumento, somente com a melodia. “Alegria de Paulo Freire” que eu fiz para ser tocada na abertura do Seminário internacional de educação, em São Paulo foi assim. Caí na asneira de que iria compor uma música em homenagem a Paulo freire, só que estava chegando a data do encontro e a música não saía. Eu um dia estava sentado embaixo de uma das árvores no Tiguera e fiquei pensando em Paulo Freire, ele que tinha aprendido a escrever embaixo das mangueiras, no chão. E pedi, Paulo Freire por favor e acabei compondo ali. Escrevi a música toda, ela saiu inteira ali. Depois é que fui harmonizar, mas escrevi a melodia da música toda. Às vezes acontece de a flauta inspirar, mas confesso que tem acontecido mais através do piano. O piano tem sido o maior propulsor de arranjos, ideias harmônicas. Costumo ficar muito ligado no que os pianistas fazem, no que eles tocam, especialmente o Cristovão Bastos.
Daniela Aragão: Você tem trabalhado com o Cristovão não é?
Estevão Teixeira: Cristovão participa de todos os meus trabalhos, também o Jurim Moreira, Adriano Gifone, Bilinho Teixeira, Jaime Além, Alexandre Carvalho. Marcos Suzano não é de agora, foi no início da “Casinha”, quando ele nem era músico profissional ainda. Ele não participou dos meus primeiros cds, participou do último que vai sair agora e do meu DVD.
Daniela Aragão:O Cristovão já trabalhava com você na ocasião do seu primeiro cd? Esse disco é muito bonito, gosto de sua leitura para Vera Cruz.
Estevão Teixeira: Sim ele trabalhou em várias gravações desse disco, quase todos os pianos são do Cristovão, exceto “Chovendo na Roseira” que levou o arranjo do Itamar Assiere e “Bala com Bala”, execução do Luiz Carlos Coutinho. O arranjo dessa música é do Jaime Além que chamou o Luiz Carlos Coutinho.
Daniela Aragão: Você vem trazendo essa fome pelo piano e enriquecendo isso nesse permanente diálogo com os pianistas mais maravilhosos desse país.
Estevão Teixeira: Eu me vejo muito no Cristovão, ele toca o tipo de piano que eu gosto, sua concepção dos arranjos. Admiro-o muito também como pessoa, um ser humano maravilhoso. Essas ligações fazem parte da vida. Ouço muito o Cristovão, quando estou com ele, ele não sabe o quanto estou ali aprendendo, absorvendo sua imensa musicalidade. A cada minuto que ele toca o piano eu estou de olho, a maneira também como ele interage quando toca comigo. A forma como ele arranja, como ele me mostra as coisas no piano. Ele é uma aula sempre.
Daniela Aragão: Você acabou de me mostrar um disco lindíssimo que está fazendo só com canções francesas interpretadas pela
Enilce Albegaria. Isso foi uma surpresa impactante para mim, eu a conhecia como professora de francês da Universidade Federal e sabia por alto que ela exerceu na França um longo trabalho com teatro. A voz dela é muito bonita, o timbre, a impostação vocal, tudo é de muita qualidade.
Estevão Teixeira: Foram mais de três anos de dedicação a esse disco. Quando a Enilce começou a cantar ela era uma, depois de três anos e meio ela é outra. Tanto pelo fato da direção musical que foi feita, a maneira como eu achava que ela deveria cantar as músicas. Logicamente que não estou falando em relação à língua francesa, coisa que ela domina plenamente. Não era a maneira de dizer propriamente, mas de colocar a performance vocal dela. Ela fez aula de canto também com o Pedro Curi, isso foi muito importante na questão da técnica.
Daniela Aragão: Aqui no Brasil somos muito ligados a música norte americana, quando pensamos em música francesa quase sempre nos ligamos a interpretações mais estratificadas, aquelas que ficaram marcadas por Edith Piaf por exemplo. E esse disco da Enilce produzido por você mostra uma vertente mais moderna, mais swingada, em alguns momentos parece fazer um passeio por um cenário mais existencialista, em outros por uma atmosfera até meio Nino Rota, felliniana. Contudo você sempre aproveita a “flauta brasileira”, arranjos delicados e pulsantes com sopros. O canto da Enilce traz emoção sem nenhum excesso e toca a alma.
Estevão Teixeira: Exatamente, ele não tem uma concepção norte americana de música de jazz. É um disco que não tem bateria, tem o swing todo, mas que é dado pelo piano e o contrabaixo.
Daniela Aragão: É um disco bem elaborado, delicado e pulsante e acho que a marca maior dele é essa linguagem atual, mas que não perde a essência dramática.
Estevão Teixeira: Quando a Enilce me convidou para fazer esse trabalho pensei de cara, ih que coisa chata, pois a música francesa tem um lado muito chato, muito monótono, previsível. Quando ela me deu as partituras inicialmente achei as melodias lindas e quando me deu as harmonias perguntei se poderia mudar . Enilce me deu autonomia total para que eu mexesse como achasse melhor. Foi ótimo, pois fiquei absolutamente solto. Fui na origem da música, mas dando uma outra roupagem, muitas vezes uma conotação mais brasileira.
Daniela Aragão: E vocês vão lançar fora?
Estevão Teixeira: Fora e aqui também. Junto a isso tem outras coisas. Devo mencionar o Nivaldo Ornelas que foi muito importante na minha vida, o Kim Ribeiro também, Odette Ernest Dias que é a minha, nossa eterna mestra, lição de vida. São esses mestres que a gente leva pra vida. Com o Kim aprendi a tocar flauta no meio da floresta, a Odete é a “vovó da flauta”, pois ensinou ao Kim a tocar e ele a mim. Copinha também é outro músico fundamental, swing da música, do choro, do samba, da improvisação. Com ele eu me influenciei demais na flauta. Música americana o Hubert Laws, que é um grande flautista. Música brasileira não tem igual ao Franklin e o Copinha, não tem igual mesmo.
Daniela Aragão: O Franklin costuma tocar no choro na feira em Laranjeiras com o Bilinho, vi várias vezes, uma maravilha.
Estevão Teixeira: Ele é a escola da música brasileira com a qual eu mais me identifico como flautista. O pessoal da Banda Black Rio também, o Bertan do sax e que tocava flauta também. Enfim, várias pessoas que não são assim tão conhecidas muitas vezes, Manoelzinho da flauta que gravava num disco de choro, paulista. O swing do Brasil está no som mais sujo, no Nelson Cavaquinho, que tem um outro tipo de linguagem e que traduzido na área instrumental da flauta se reflete mais nessas pessoas que falei, no Copinha, no Franklin. Menos virtuosístico, Altamiro Carrilho é um grande flautista, mas não desse lado que estou falando. Na primeira aula que tive com o Copinha, na Rodolfo Dantas em Copacabana, ele foi para o piano. Ele me mostrou as harmonias com aquele dedo torto, mal tocado, mas tudo estava ali. Pensei então, o segredo é esse, um flautista tem que entender de harmonia. Aí coloquei na cabeça que eu tinha que comprar um piano. O Copinha tocava com o Paulinho da Viola e o Paulinho tocava com o Cristovão Bastos. O piano que eu sempre gostei, a gente ouviu muito na minha casa o Paulinho da Viola. Todos os discos do Paulinho, aquelas capas lindas do Elifas Andreato que mostravam o Paulinho chorando. O Cristovão que era um cara muito admirado e participa comigo dos meus trabalhos desde o meu primeiro CD, aquele lançado em 98 com texto de apresentação do João Bosco. Jurim Moreira, Alexandre Carvalho, Nivaldo Ornelas, até o Nico Assunção gravou comigo. Acho importante registrar essas influências que sofri dos grandes flautistas e até dos pianistas. Nelson Freire me influencia muito, assisti a todas as apresentações dele aqui em Juiz de Fora. Gosto muito de piano erudito, quero virar pianista um dia, poder tocar Bach, Ernesto Nazareth, Debussy. O piano também foi decisivo na forma como fui escrevendo os arranjos, minhas construções harmônicas. Poucas pessoas sabem que tive uma paralisia facial que me impediu de tocar flauta e saxofone. Daí pensei, acho que Deus está querendo que eu toque piano.
Daniela Aragão: Quando tempo durou essa paralisia?
Estevão Teixeira: Durou um ano mais ou menos. Depois comecei a fazer muita fisioterapia e voltou tudo. Nessa época eu comecei justamente a aprender violão com o Bilinho, o violão se tornou hoje uma outra ferramenta maravilhosa para mim. Voltou tudo depois, a flauta, o saxofone, o piano que eu já estava mais forte e ainda ganhei de brinde o violão. Essa linguagem da música brasileira fortalecida também pelo aprendizado do violão que tive com o Bilinho.
Daniela Aragão: E você fez um disco com o Bilinho?
Estevão Teixeira: Na verdade participei do disco dele tocando flauta. Um disco muito bonito. Ah você se refere ao “Em companhia” esse último disco que fiz junto com o Bilinho. Esse disco traz essa turma toda, Cristovão, Jurim Moreira na bateria e o Bilinho claro tocando composições lindas, a maior parte é dele.
Daniela Aragão: Estou aqui com esse seu livro prontinho para ser lançado, super bonito com ilustrações do Eliardo França. Você criou o TEDEM, que é uma metodologia de ensino.
Estevão Teixeira: Pois é, criei o TEDEM que significa teclado, didático para educação musical. Foi patenteado como teclado didático para o ensino da música, mas acho que fica mais amplo quando ele abre para a educação musical. É para qualquer um, sem limitação de faixa etária e qualquer instrumento. Pela forma dele ser um teclado não quer dizer que é só para quem quer aprender piano, é para quem quer aprender música. É para se ter uma visão da música através do teclado. Ele serve como um painel e costumo falar que o tedem é um ábaco musical, onde você tem as formas. É uma forma de penetrar na música entendendo os intervalos, as escalas e os acordes. Ele é de madeira e as geografias musicais formam desenhos maravilhosos e que o João Diniz, grande arquiteto de Belo Horizonte disse: “Vamos fazer um trabalho sobre os desenhos do tedem que formam no teclado”.
Daniela Aragão: Foi você que idealizou?
Estevão Teixeira: Sim, eu idealizei e patenteei. Tenho a carta patente que demorou 10 anos para sair. Posso dizer então que sou o inventor de um modelo de utilidade. Não inventei o teclado. Comecei a desenvolver também esse estudo na minha dissertação de mestrado em que abordei o tema da alfabetização musical à luz de Paulo Freire, às vezes falam que sou o Paulo Freire da música, bobagem deles. Quem sou eu para chegar perto do Paulo Freire. Paulo Freire desenvolveu uma metodologia de alfabetização de jovens e adultos.
Daniela Aragão: Paulo Freire foi fantástico principalmente em relação aos adultos, pois alfabetizava esse pessoal utilizando um vocabulário que fazia parte do universo deles, nada de ficar reproduzindo um discurso infantil que em nada contribuiria para aproximar um adulto do desejo e necessidade de aprender.
Estevão Teixeira: O TEDEM vai fazer exatamente isso, ensinar música para o universo das pessoas e sobretudo valorizar a música popular. Então torno a afirmar a importância do piano na minha vida. Quando morei no Rio estudei com o Yan Guest uns dois anos e meio e logo que ele montou a sua escola, a Siga, que aconteceu pela primeira vez na Cinelândia. Comecei a dar aula lá de harmonia, flauta e saxofone. Nas aulas de harmonia quando eu mostrava as ocorrências no piano, eu tinha que chamar os 13 alunos para irem até o piano para acompanharem a reflexão. Pô, aí ficava nesse levanta, senta, levanta que era meio embolado. Daí fui pensando em bolar um teclado e o TEDEM surgiu dessa ideia. Mas eu nunca, jamais poderia imaginar que o TEDEM iria virar um método, uma metodologia que agora é lei em Juiz de Fora, apesar de não ser aplicada. Isso foi abortado na era Bejani e até agora não voltou. Tenho esperanças que volte.
Daniela Aragão: E o conservatório adota?
Estevão Teixeira: É uma coisa muito difícil, a universidade me comprou 150 TEDENS lá e 400 livros que estão parados, mofando e estragando. Dei um curso de extensão na universidade e ela já me comprou com uma ideia desses teclados serem utilizados tanto em cursos de extensão e com outras finalidades. Estamos aguardando vigorar a lei aqui, mas tudo em Juiz de Fora é difícil, depender do poder público municipal e federal etc. Mesmo assim há pessoas boas dentro dessas instituições. A fogueira das vaidades é muito grande, às vezes não querem deixar a oportunidade para um outro que sabem que tem talento e que poderia dar uma contribuição boa. O João Carlos Martins (pianista) gostou muito do TEDEM e está apoiando. Esse método está muito mais próximo das nossas percepções primárias e o que nos aproxima mais da maneira, da percepção, de visão, de assimilação da linguagem musical pelos músicos populares. A academia é importante, é lógico. Tem que saber música erudita, o repertório, técnica, mas há uma maneira como os músicos populares assimilam a música. Como é que o cara toca um violão a noite inteira, uma sanfona a noite inteira e analfabeto. Temos que saber valorizar isso. Meu trabalho com o TEDEM é de resgatar a maneira intuitiva, como eu aprendi música na minha casa. Como é que se dá essa experiência musical, pois quando entrei na universidade não vi nada disso na UFRJ. Tive uma visão que me espantou muito, o distanciamento entre a música que eu começava a ver na universidade e a música que eu fazia. O meu professor de flauta da universidade queria que eu largasse a música popular , uma das maiores brigas que eu tive na universidade foi por conta disso.
Daniela Aragão: Esse processo “limitador” de academização das pessoas. Qual seria o lugar do artista na universidade de fato? É estranho, pois as universidades aceitam os artistas nos programas de mestrado e doutorado por exemplo e na hora da defesa de uma tese não permitem que esse mesmo artista aceito na instituição tenha as vezes um discurso mais solto, próprio de sua vivência. Acho que a universidade ainda não aprendeu a se aliar aos artistas de fato.
Estevão Teixeira: Parece-me que as coisas estão mudando, mas tudo é muito lento. E é isso aí, estou preparando o lançamento do meu livro junto com o Eliardo França e entrando no estúdio para gravar o “piano solo” que são as interpretações das minhas canções.
Daniela Aragão: Uma linda estrada...
Estevão Teixeira: Você não se torna artista da noite para o dia, o artista é fruto da sua vivência. Hoje se fabrica muito rápido um artista, o cara entra no “Big Brother” e vira artista. Eu acho que é uma coisa mais profunda, não se vira flautista da noite para o dia, demora. Virar músico demora. Me faz remeter ao Rainer Maria Rilke no “Cartas a um jovem poeta”, existe algo que é mais profundo. A criação é fruto de várias coisas que nos acontecem. Como é importante você viver da música, pois é assim que você sente as dores e as delícias dessa escolha.
Daniela Aragão: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”...Muito obrigada Estevão.
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