sexta-feira, 10 de junho de 2011
Ouro Preto sob o olhar de Mauro Rocha
Minha vivência em Ouro Preto tem me trazido uma proximidade maior com as artes plásticas que vislumbro nas belas obras de Carlos Bracher, Guignard, Mauro Rocha e Ivan Marquetti. Mauro Rocha, o mais jovem dentre essa tríade valorosa é um artista que figura praticamente desconhecido, mas que desponta por sua tocante e singular pintura com traçados fortes que ilustram um percurso repleto de meandros, em que uma estética predominantemente realista evidente em suas produções iniciais da lugar a uma manifestação de caráter fortemente expressionista. Ouro Preto e suas casas, igrejas, ruazinhas e personagens anônimos figuram nas pinceladas densas de Mauro Rocha que percorre um universo telúrico e barroco transcendente. Delicadeza e aspereza, lirismo e espanto, um conjunto de aparentes antíteses permeiam as telas desse pintor que vislumbra seu micro-macrocosmo –Ouro Preto com um olhar de homem-menino. Em tons de azul surge um acordeonista que emana ecos pictórico-sonoros, amarelo, dourado e ocre ressaltam de um violoncelista compenetrado em seu ofício. Um menino de faces rosadas toca outro acordeon multicromático.
Rótulos não cabem à magnitude da criação de Mauro Rocha, evidentemente ele é um artista que dialoga com a pintura ocidental e com a linhagem expressionista que inclui sobretudo Van Gogh. Já dizia T. S Elliot que o verdadeiro artista imprescindivelmente carrega em sua criação a memória dos “seus mortos”. “Eu sempre quis criar um elo entre o presente e o passado” afirma o pintor. Artista de alma meio cigana, Mauro Rocha viveu quase uma década na Europa conciliando o ofício da pintura com atividades mais burocráticas que lhe asseguravam a sobrevivência. Flanando por terras estrangeiras, viveu as dores e delícias de um artista jovem em momento ainda de auto- descoberta. De volta ao Brasil a pintura de Mauro desponta mais amadurecida, autoral, concentrada em suas cores e formas. A imersão em outras culturas favoreceu a aceleração do processo de intenso autoquestionamento que resultou em transfiguração. Emociona-me o quadro de feição realista de sua fase inicial que expõe um cenário bucólico em que um sol radiante ilumina a racionalidade do traçado do desenho das galinhas, mas arrebatam-me os quadros em que Ouro Preto e suas casas, ruazinhas e igrejas deflagram um lirismo quase melancólico : “Vi muitos cenários e belas paisagens por onde passei e vivi, mas nada me instiga mais e me inspira e conduz mais a pintar do que Ouro Preto”. Plenamente integrado/concentrado em sua Ouro Preto, Mauro Rocha recria e universaliza a matéria local em que a histórica Vila Rica marcada por sua força de contrastes luminosos e opressivos é caminho para o mundo. Um mundo de vermelhos, azuis, lilases, pretos, verdes, marrons, violetas invadem as telas com suas casas, personagens, igrejas, pedras e estradas labirínticas. Quando passeio com Mauro pelas ruas da cidade me preparo para compartilhar uma visão contemplativa que ele aparenta fazer questão de deixar quase incólume: “Olha só aquele detalhe daquela casinha no meio das árvores, talvez o ângulo da direita retrate melhor. Preste atenção na Casa dos Contos bem ao centro, agora veja aquele conjunto de casas na extremidade, na Rua Direita tem uma casa...”. Vou seguindo seu olhar por vezes cambaleante, por vezes preciso, por vezes angustiado, por vezes feliz por simplesmente estar diante de seu pequeno vasto mundo. Pura de imensidão e beleza é a criação de Mauro Rocha.
sábado, 4 de junho de 2011
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